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Graças ao fisiologismo da Câmara dos deputados, pelo o que tudo indica, o futuro da  água e biodiversidade brasileira estará, literalmente, nas mãos da Presidente Dilma nos próximos dias. Os dois elementos – água e biodiversidade – hoje considerados em escala internacional questão de segurança nacional para o atual século, podem simplesmente ser inviabilizados no Brasil, paradoxalmente o País mais rico em ambos. Decisões sérias estão sendo tomadas por pessoas que não conhecem a dinâmica dos nossos biomas.

Fato marcante da alteração do código é a injustiça com os proprietários e suas gerações anteriores que respeitaram a lei à todo o custo e preservaram. O vizinho que destruiu tudo e lucrou produzindo com essa área desmatada ficará em visível vantagem – e também os especuladores de terras. Somente isso já coloca em alto risco a biodiversidade nativa sobrevivente.

Sim, a obrigação de recompor a vegetação desmatada ilegalmente pode em raros casos atrapalhar a pequena  produção familiar (pequena mesmo, com 10 ha) em algumas propriedades do Sul e Sudeste e pode se ter uma flexibilidade técnica. Entretanto, na grande maioria das áreas não, e sem o replantio da APPs, perderemos a sobrevivência a longo prazo das matas fragmentadas, já que não serão recompostas e nem conectadas formando “corredores florestais” – garantia de manutenção da fauna responsável pela disseminação de novas árvores e biodiversidade.

A tecnologia e sustentabilidade devem ser o norte da produção moderna, com um equilíbrio entre vegetação nativa e agropecuária – de forma ao sistema permanecer estável e produtivo ao longo do tempo. E como se fará agropecuária sem água? Sancionada essa lei, esse será certamente o futuro. Isso sem citar eventuais mudanças climáticas já no horizonte próximo.

Na contra-mão da história segue alguns setores políticos do País e, se nada for feito, em seu rastro a perda de nossa incrível biodiversidade e abundância de água. Para os próximos anos teremos um “apagão” da água, biodiversidade e alimentos?

 Assinem o manifesto para impedirmos esse retrocesso – clique no link abaixo –

http://www.avaaz.org/po/codigo_florestal_urgente

Ricardo Cardim

Paisagem da agricultura brasileira no século XXI - modernidade?

Em “novo tempo” como o que vivemos nas últimas décadas, o ser humano passou a questionar com mais intensidade seus efeitos maléficos para o meio ambiente e os reflexos na qualidade de vida e sua continuidade no planeta. O ambientalismo passou a ser um assunto do cotidiano, de grande importância, levando líderes mundiais a se encontrarem em função disso.

Embora com muitas dificuldades, principalmente quando os interesses contrários envolvem dinheiro, a preocupação com a preservação do planeta e seus recursos hoje é fato. Mesmo assim, em pleno 2010, um grupo quer levar o Brasil de volta às trevas de alguns séculos atrás na questão ambiental.

Liderados pelo deputado Aldo Rebelo, a proposta promete, caso seja aprovada, retroceder em pouco tempo o ganho ambiental de décadas sob o nobre argumento da agricultura e a necessidade de produção de mais alimentos.  Mudanças podem ser necessárias, mas não essas, que só atendem a um pensamento imediatista e inconsequente.

Deixar a cargo dos Estados e Municípios a legislação florestal vai levar a destruição de vegetações nativas no Brasil em uma escala só vista na época de abertura das fronteiras agrícolas. Interesses locais, que geralmente são os mesmos dos proprietários de terras, ditarão as regras, que serão sempre as mesmas:  derrubar tudo e mais lucro.

Medidas como diminuir de 30 para 7,5 metros a área de mata ciliar, farão a alegria de madereiros em todo Brasil, que vão poder vender preciosidades já desaparecidas do mercado. Preparem-se para ver daqui há alguns anos móveis de imbuia, peroba-rosa, jacarandá e araucária em profusão. Menos água e chuvas, mais erosão e desertificação – uma volta  para a agricultura do século XIX.

E pensar que o Brasil é o país de maior biodiversidade do planeta!

Ricardo Henrique  Cardim 

Ricardo Cardim

Essa fotografia acima foi tirada em 2009 no reflorestamento com nativas realizado no parque Villa – Lobos na cidade de São Paulo por volta do final da década de 1980. Antes de ser parque ali, tudo era um antigo aterro sanitário desativado. Duas décadas depois, as árvores já tem mais de 1o metros de altura e formaram densos capões para quem vê de fora. Mas ao entrar dentro dessas matas a impressão que se tem é de estar em uma floresta inundável amazônica, que não tem outro estrato florestal a não ser o das árvores emergentes.

Onde estão o sub bosque com seus arbustos, cipós, palmeiras, árvores novas, ervas e arvoretas? Cadê as epífitas como bromélias, aráceas e orquídeas? Uma mata a poucos quilômetros dessa, dentro da USP, tem uma aparência bem diferente, mesmo sendo secundária, e os estratos estão todos presentes, como uma verdadeira floresta atlântica.

Para formar uma composição próxima a uma mata nativa precisa-se mais do que apenas uma plantação de árvores pioneiras, secundárias e clímax. Em uma floresta tropical as árvores são apenas parte do todo, e isso precisa ser observado por aqueles que planejam recomposições da vegetação original e são plantadores de árvores. Senão, todo o trabalho pode ter uma durabilidade efêmera, não apresentando potencial de regeneração e não atuando como uma mata tropical de verdade.

Ricardo Henrique Cardim


https://i0.wp.com/www.institutoaf.org.br/wp-content/uploads/2009/11/manifesto.jpg“Lutar pelo verde, tendo a certeza de que
sem o homem e mulher o verde não tem cor”
Paulo Freire

O Código Florestal Brasileiro é um patrimônio da sociedade brasileira e uma referência internacional no que se refere à legislação sobre o meio ambiente e a utilização dos seus recursos. Apresenta-se de forma diferenciada às diversas formas de agricultura do país, permitindo maior flexibilidade para o desenvolvimento da agricultura familiar e camponesa, haja vista a importância desta para a produção de alimentos.

Após a criação do Código Florestal de 1965, foram incorporadas complementações por meio de medidas provisórias e reformas pontuais destacando-se as alterações de 89, quando o Brasil se preparava para a ECO 92.

Porém, mesmo com toda riqueza técnica e política sua aplicação não foi, de fato, efetiva. O governo, durante a ditadura, estava praticando uma política de incentivo ao desmatamento através de projetos de colonização, utilizando-se do lema “homens sem terra para terras sem homens”. Posteriormente, as novas diretrizes governamentais passaram a aplicar o código de forma punitiva sem proporcionar condições reais de adequação e regularização das propriedades.

Assim, com o passar dos anos, criou-se uma “mistificação” de que o Código Florestal é rígido e se apresenta como um empecilho ao desenvolvimento da agricultura no Brasil. No entanto, fica claro que o que falta não é uma legislação “de qualidade” e sim programas de governo que venham para auxiliar a agropecuária na adequação ao código.

Diante disso, as instituições e pessoas presentes ao Ato Público realizado na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, em 12/11/09, compreendendo a importância do atual Código como instrumento de política pública voltada à conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida do povo brasileiro, manifestam-se contrárias a qualquer projeto que venha substituí-lo ou modificá-lo sem a prévia aplicação efetiva de programas voltados a sua implantação e o amplo debate junto à sociedade brasileira.

Avaliamos que o PL 6424 é um retrocesso do atual Código em favor de interesses econômicos que defendem o avanço indiscriminado do agronegócio, na contramão da liderança que o Brasil deve assumir frente às questões socioambientais planetárias.

Dessa forma nos manifestamos em Defesa do Código Florestal Brasileiro e chamamos toda a comunidade a debater acerca do mesmo.

Se você concorda com este Manifesto, visite www.institutoaf.org.br/2009/11/manifesto-em-defesa-do-codigo-florestal/deixando sua assinatura de apoio e também nos ajudando a divulgá-lo. Para quem ainda tem dúvidas, criamos um Fórum de Discussão: www.institutoaf.org.br/forum/

Este Manifesto será entregue para Parlamentares na ESALQ/USP – Anfiteatro do Depto. de Ciências Florestais (Av. Pádua Dias, 11 – Piracicaba/SP), no dia 10/12/2009 às 19 horas, e posteriormente encaminhado para o Presidente da República, a Casa Civil, os Ministérios do Meio Ambiente, da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário, e demais Senadores e Deputados!

Saudações,
Comissão Organizadora do Ato Público

Leia o artigo que ajudamos a escrever sobre o eucalipto, essa árvore tão polêmica quanto útil à nossa sociedade. Clique no link verde abaixo:

 

Revista DZ de vilão a mocinho – Eucalipto – blog matas ciliares e reflorestamento

 

 

ataque de formiga cortadeira foto de Ricardo Cardim

“Ou o Brasil acaba com a saúva ou ela acaba com o Brasil” essa frase exagerada, repetida a exaustidão, ainda permeia a cultura rural e urbana. Mas o fato é que, embora a saúva e outras formigas cortadeiras como a quemquém causem prejuízos, elas são importantes para o equilíbrio ecológico do ecossistema.

Entretanto, tudo o que não se quer em um reflorestamento, seja ele para preservação ou comercial, é a presença delas nas mudas. Um ataque noturno desses insetos pode inviabilizar um plantio recente com plantas de pequeno porte. Normalmente as iscas e outros inseticidas são usados antes do plantio para eliminação das colônias (nem sempre com sucesso).

O que poucos sabem é que a manutenção do “mato” como capim, ervas e outras plantas espontâneas no local, evita muito o ataque desses insetos, além de ajudar na regeneração da vegetação pretendida e proteger o solo. Na foto acima, um capixingui (Croton floribundus) lança suas primeiras folhas após um ataque que o despiu totalmente. Esse não morreu por milagre.

Ricardo Henrique Cardim

Reflorestamento com cedros adensados em borda de mata

Reflorestamento com cedros adensados em borda de mata

Em viagem para o Amazonas no ano passado, mais precisamente na Reserva Mamirauá, no coração do Estado, visitei um reflorestamento realizado em uma comunidade ribeirinha assessorado por profissionais. A idéia era plantar árvores produtoras de madeira para as futuras gerações do local a terem como um “depósito vivo” e usufruírem nas suas necessidades.

Uma das madeiras mais requisitadas para plantar na época foi o cedro (Cedrela odorata). Os ribeirinhos foram orientados a plantar um do lado do outro, bem adensados de forma a aproveitar o terreno e criar um fuste reto. Passaram 12 meses e as plantas já estavam com quase três metros. Até que um dia começaram a perder a ponta (gema apical) um a um e morreram. Todo o trabalho foi perdido.

A causa é velha conhecida de quem planta florestas, já que ataca cedros de espécies tanto do Sul quanto do Norte. Trata-se de uma larva de besouro, a broca-do-cedro (Hypsipyla grandella Zeller), que quase invariavelmente ataca formações adensadas de cedros. O segredo mais uma vez está na observação da natureza e seus mecanismos.

Nas matas naturais o cedro é geralmente uma árvore rarefeita, não ocorrendo em populações com árvores muito perto uma das outras, e o besouro é um regulador natural desse processo. Antes de plantar temos que ter humildade e observar para aprender as lições da própria mata.

Ricardo Henrique Cardim

Gema apical ou ponteiro do cedro atacado

Gema apical ou ponteiro do cedro atacado

A responsável - broca-do-cedro (Hypsipyla grandella Zeller)

A responsável - broca-do-cedro (Hypsipyla grandella Zeller)

 

muda seca foto de Ricardo Cardim

Muda plantada sem nenhuma proteção ao solo em volta - já perdeu todas as folhas.

Entre os grandes inimigos no pegamento das mudas, um de fácil solução é muitas vezes (para não falar quase todas) negligenciado – a disponibilidade de água. Regar as mudas constantemente no campo, em pleno reflorestamento, é complicado e custa dinheiro.

Uma solução de custo praticamente zero é espalhar matéria vegetal morta no pé da muda, em volta de toda a cova. Pode ser palha de corte de grama, de colheita mecânica da cana ou o que estiver mais próximo, até um pouco de serrapilheira de matas próximas ajudam a regenerar o ambiente com novas mudas.

Assim, com cerca de 10 a 15 cm de cobertura seca, a evaporação ocorre muito mais lentamente e a planta resiste a longos períodos secos e ganha maiores chances de sobrevivência.

Ricardo Henrique Cardim

 

amazonia Ricardo Cardim

Com a medida provisória 458, a “MP da grilagem” abre-se uma novo tempo para todos aqueles que querem construir latifúndios em paraísos ecológicos sem gastar quase nada.  Grilagem é coisa do passado! Agora todos são cidadãos de bem e regularizados. Mais uma vez interesses de uma minoria tentam passar por cima dos interesses nacionais desta e das próximas gerações.

Cerca de 67 milhões de hectares ou 80 % das terras públicas apropriadas irregularmente, surrupiadas mesmo, irão ser privatizadas em nome de foras-da-lei. E o melhor é que poderão ser vendidas em três anos, já garantindo ótimos lucros.

A MP 458, além de passar um “diploma de otário” à todos os brasileiros de bem, tem o problema ambiental: as florestas, maioria da área dessas terras griladas, caíra literalmente por terra. Afinal, com os documentos em mãos, nada melhor que valorizar sua nova fazenda legalizada com o máximo de pastos  e extensas cercas em madeira-de-lei. Se a fazenda for muito longe para agropecuária, a opção é  saquear as madeiras e deixar a terra abandonada até uma estrada chegar perto um dia.

Inscrições abertas para pessoas físicas, jurídicas, nacionais ou estrangeiras.

Ricardo Henrique Cardim 

 

Paisagem da agricultura brasileira no século XXI - modernidade? 

Em “novo tempo” como o que vivemos nas últimas décadas, o ser humano passou a questionar com mais intensidade seus efeitos maléficos para o meio ambiente e os reflexos na qualidade de vida e sua continuidade no planeta. O ambientalismo passou a ser um assunto do cotidiano, de grande importância, levando líderes mundiais a se encontrarem em função disso.

Embora com muitas dificuldades, principalmente quando os interesses contrários envolvem dinheiro, a preocupação com a preservação do planeta e seus recursos hoje é fato. Mesmo assim, em pleno 2010, um grupo quer levar o Brasil de volta às trevas de alguns séculos atrás na questão ambiental.

Liderados pelo deputado Aldo Rebelo, a proposta promete, caso seja aprovada, retroceder em pouco tempo o ganho ambiental de décadas sob o nobre argumento da agricultura e a necessidade de produção de mais alimentos.  Mudanças podem ser necessárias, mas não essas, que só atendem a um pensamento imediatista e inconsequente.

Deixar a cargo dos Estados e Municípios a legislação florestal vai levar a destruição de vegetações nativas no Brasil em uma escala só vista na época de abertura das fronteiras agrícolas. Interesses locais, que geralmente são os mesmos dos proprietários de terras, ditarão as regras, que serão sempre as mesmas:  derrubar tudo e mais lucro.

Medidas como diminuir de 30 para 7,5 metros a área de mata ciliar, farão a alegria de madereiros em todo Brasil, que vão poder vender preciosidades já desaparecidas do mercado. Preparem-se para ver daqui há alguns anos móveis de imbuia, peroba-rosa, jacarandá e araucária em profusão. Menos água e chuvas, mais erosão e desertificação – uma volta  para a agricultura do século XIX.

E pensar que o Brasil é o país de maior biodiversidade do planeta!

Ricardo Henrique  Cardim

09-06-2010

Impressionante como em pleno século 21 ainda existem pessoas com idéias medievais e irresponsáveis nas questões ambientais. O deputado citado no título e os ruralistas mais uma vez atendem interesses imediatistas e desconectados com o presente e o futuro de todos. Ao defenderem o projeto que retira da União poderes na área ambiental, o futuro da vegetação brasileira e da água está seriamente comprometido.

Caso esse projeto por total absurdo seja aprovado, não sobrará uma árvore em pé no País. Não se trata de exagero ou alarmismo. Se a prerrogativa de fixar o  tamanho das áreas de proteção permanente nas margens de corpos d’água (rios, represas, etc.) for transferido para municípios, interesses econômicos locais (que aliás são geralmente os mesmos que ocupam as câmaras municipais e prefeitura)  determinarão aquilo que é mais conveniente para seus bolsos agora e não para os brasileiros e o planeta.  Adeus matas ciliares e água doce.

Quem conhece o Brasil, sabe que nas cidades menores, difíceis são os políticos locais que não possuem fazendas ou não tem fazendeiros no seu eleitorado, e poucos são aqueles preocupados com o meio ambiente a ponto de deixar reservas florestais em sua terra por iniciativa própria e não por lei federal. Vai ter município por aí aprovando leis de 0% matas ciliares e reserva legal, tudo em nome da produtividade e do agronegócio. 

Caso seja aprovado, lenha e madeira não vão faltar nos próximos anos, e é bom começar a estocar água…

Ricardo Henrique Cardim

Na esquerda da foto o que é hoje, à direita o que será, caso o projeto do deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) seja aprovado

Na esquerda da foto o que é hoje, à direita o que será, caso o projeto do deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) seja aprovado

Para saber mais:

comparativo sem mata Ricardo H Cardim

Conversando com uma amiga que também gosta de florestas, discutíamos sobre a necessidade ou não de plantar árvores para recuperar uma área ex-florestada. O custo financeiro, o tempo dispendido, o erro e acerto nas espécies e a chance de fracasso são ingredientes preocupantes no processo. Por que não deixar a natureza fazer o serviço, tirando agentes pertubadores como gado e fogo e a sucessão natural resolver? 

A própria natureza na maior parte das vezes resolve o problema, a questão é o tempo. Áreas cultivadas há muitas décadas, solo erodido, ausência de fauna e fragmentos vegetacionais por perto como porta-sementes são grandes impeditivos  para o processo regenerativo acontecer no tempo preciso. Melhor é uma decisão ativa.

Na foto acima temos um capinzal na frente de uma mata de altitude crescendo. As duas áreas estão cercadas e sem perturbação desde 1995. A diferença é gritante. No primeiro plano nada foi plantado, mas no segundo foram inseridas  árvores, arbustos e lianas na época.

Só com o abandono de algumas áreas o que conseguinos é  um pasto sujo,  e nada de melhora ambiental dentro de um período que pode e deve ser acelerado. Mãos à obra!

Ricardo Henrique Cardim

O reflorestamento ou recuperação ambiental de matas ciliares pode ser bastante acelerado naturalmente, sem a necessidade da plantação de mais árvores que demandam recursos financeiros e tempo. Basta descobrir modos de atrair a avifauna – os passarinhos principalmente –  para o local. Com eles, uma multidão de plantas que os usam como dispersores possivelmente germinarão, já que seus frutos são consumidos e depois “bombardeados” via fezes no solo.

Como o Prof. Ademir Reis, de Santa Catarina, faz: usa bambus secos estrategicamente espalhados pelo terreno e fios  interligando-os. Os pássaros vão acabar usando essas estruturas como poleiro e deixando sementes para enriquecer o reflorestamento. Outra idéia é quando existem árvores exóticas como o eucalipto e o pinus, nesse caso, um anelamento na casca dessas árvores as matam em pé e elas vão se decompondo naturalmente, sendo usadas como pouso da avifauna também.

No meu reflorestamento, usei o método do poleiro de fio e encontrei algum tempo depois diversas pequenas mudas abaixo dos fios, principalmente da família Myrtaceae, como o araçá e o sete-capotes. Hoje fazem parte do sub-bosque.

figueira-brava crescendo dentro de oco de uma aroeira-branca a um metro acima do solo - plantada por pássaros. Foto Ricardo Cardim

figueira-brava crescendo dentro de oco de uma aroeira-branca a um metro acima do solo - plantada por pássaros. Foto Ricardo Cardim

 

 

 

Ricardo Henrique Cardim

Araucária (Araucaria angustifolia) Ricardo Cardim

Uma árvore que precisa ser lembrada em reflorestamentos no Município de São Paulo e arredores, e também para as cidades mais ao sul, é a araucária (Araucaria angustifolia). Como na maioria das formações florestais de Mata Atlântica sbreviventes nestas áreas essa espécie já não existe mais devido a antigas explorações madereiras que às vezes remontam a vários séculos atrás, esquece-se esse belo pinheiro nativo.

No Estado de São Paulo acostumou-se a acreditar que a araucária é uma árvore típica apenas de locais altos como a Serra da Mantiqueira, mas isso é uma constatação moderna. Anchieta, no século XVI relatava vastos pinheirais para toda a região onde hoje é a cidade de São Paulo e outros viajantes como Debret e Martius observaram e até desenharam a espécie em todo o caminho entre a cidade de Curitiba e São Paulo no século XIX.

Ricardo Henrique Cardim  

bandejas de germinação com vermiculita. Ricardo Cardim

bandejas de germinação com vermiculita. Ricardo Cardim

Um dos principais erros cometidos em recuperação e formação de matas ciliares, ainda mais naqueles não-profissionais,  é com relação a escolha das espécies a serem usadas no projeto. Difícil acertar  nas primeiras vezes, normalmente acabamos conseguindo sementes através de um amigo de outro Estado, colhendo de uma árvore que achamos bonita em praça ou rua, ou frutíferas de um  pomar perto, e criamos um vegetação que reflete nosso gosto, com plantas exóticas e domesticadas.

Aí nós temos um bosque, não uma mata nativa que tenta recriar a ecologia e florística da área degradada. Na minha opnião, o melhor a se fazer é sempre coletar sementes da vegetação nativa perto do reflorestamento e montar um viveiro por ali mesmo. Se o projeto for de mata ciliar, coletar em uma mata ciliar natural  já existente. Muita atenção para conseguir a maior diversidade possível e espécies de diferentes momentos da formação da mata, a sucessão florestal (pioneiras, secundárias iniciais e tardias e clímax).

A melhor dica é sempre recuperar a área baseando-se na vegetação original das matas mais  próximas, que está adaptada milenarmente às condições locais.

Ricardo Henrique Cardim

Uma das maiores dificuldades que encontrei no trabalho de reflorestar uma margem de rio dentro de uma propriedade na Serra da Mantiqueira em São Paulo foi algo que sequer imaginava poder ocorrer.

 Após dois anos a área plantada já começava a ensaiar suas primeiras uniões de copas entre as árvores, dando um aspecto de capoeira rala. Todo o investimento de tempo, dinheiro e estudos estava respondendo e o objetivo sendo cumprido.

Entretanto, em um dia de inspeção, encontrei quase todas as mudas cortadas rentes as suas bases. Um dos funcionários da propriedade, mesmo tendo sido avisado sobre aquele plantio de árvores achou o terreno cercado “muito sujo” e em um ato de boa-fé resolveu “limpá-lo”, intenrrompendo os trabalhos e até as mudas espontâneas que despertavam no local levadas pela fauna e vento.

Isso ainda ocorreu outra vez três anos depois por um outro funcionário. Os cortes não conseguiram prejudicar a formação da mata e o reflorestamento apresentou ótima resiliência. Mas mostrou a necessidade constante da educação ambiental da comunidade de entorno, que pode prevenir problemas como esse e ainda plantar novas sementes.

jacarandá (Dalbergia nigra) cortado rente pela segunda vez e brotando forte. Alta capacidade de resiliência. Ricardo Cardim

jacarandá (Dalbergia nigra) cortado rente pela segunda vez e brotando forte. Alta capacidade de resiliência. Ricardo Cardim

 

Ricardo Henrique Cardim

Um dos fatores mais importantes que observo para o sucesso de ações de reflorestamento e recuperação de vegetação, principalmente quando é realizado em áreas muito degradadas, sem banco de sementes e árvores matrizes por perto, é a formação do microclima.

Com o microclima advindo do sombreamento completo do solo pelo encontro das copas das jovens árvores, evita-se o crescimento de capim e outras plantas invasoras agressivas que competiriam com as árvores plantadas e prejudicariam ou impossibilitariam o sucesso da ação. Muitos reflorestamentos fracassam após poucos anos por esse fator.

Aqui percebemos o excesso de sol no solo e consequentemente o capim vigoroso, além das árvores estarem com a copa apresentando ramos muito cedo. Isso ocorreu principalmente porque eu usei poucas espécies pioneiras resistentes a geadas e formigas. Ricardo H Cardim

Aqui percebemos o excesso de sol no solo e consequentemente o capim vigoroso, além das árvores estarem com a copa apresentando ramos muito cedo. Isso ocorreu principalmente porque eu usei poucas espécies pioneiras resistentes a geadas e formigas, o que causou muitas perdas. Ricardo H Cardim

 

Ricardo Henrique Cardim

 

Para se obter o microclima, um sombreamento promotor de temperaturas e umidade adequadas às plantas mais exigentes, com solo apresentando mais água disponível, maior diversidade de fauna e consequentemente novas plantas espontâneas e enriquecimento – muita atenção as árvores e arbustos pioneiros.

Essas plantas presentes em clareiras e nos primeiros estágios da sucessão florestal variam bastante dentro dos biomas. O melhor é sempre observar e coletar as espécies pioneiras que ocorrem perto da área a ser reflorestada, escolhendo aquelas mais rústicas e de crescimento mais rápido, atentando para colher as sementes de diferentes matrizes e o maior número de espécies possíveis.

Com essas mudas prontas para campo, o espaçamento deve ser o menor possível para a área, levando a uma natural competição entre as arvorezinhas, que vão lutar para obter luz e os nutrientes, buscando o alto e encostando rapidamente as suas copas, formando o tal “microclima” embaixo da folhagem. A partir desse momento uma das principais etapas está resolvida, porém, muitas outras ainda virão…

Ricardo Henrique Cardim

eucalipto

reflorestamento de eucaliptos com a mata nativa respeitada - como qualquer outra cultura

O assunto eucalipto costuma despertar paixões nos seus defensores e odiadores. O problema é o fato de  muitos confundirem as coisas, e aí começa a polêmica. A plantação de eucaliptos tem que ser encarada como mera cultura agrícola, que em vez de produzir alimentos produz celulose e madeira principalmente.

Uma vez que é uma cultura agrícola como a soja, a cana e outras, precisa-se tomar diversas medidas para ser sustentável – cuidado com o solo, uso mínimo de defensivos, não ocupar áreas de reserva de vegetação nativa e toda a cartilha recomendada à agricultura moderna.

O eucalipto NÃO substitui em nenhum momento a vegetação nativa e áreas de proteção ambiental como matas ciliares, ele é uma árvore, mas não para isso. Quem o usa para essa finalidade  está completamente errado. A vegetação ideal de um local é aquela pré-existente, a nativa, em todas as suas características selecionadas por eras.

Mas, para quem também diz a velha história que o eucalipto destrói o solo em poucos plantios, está equivocado. Basta lembrar da fazenda da Cia. Melhoramentos de papel nos arredores da Capital Paulistana, onde se planta o gênero australiano há mais de 100 anos e continua se cultivando sem maiores dramas.

O seu uso desde a época das companhias de estrada de ferro, tendo Navarro de Andrade como seu incentivador, salvou e salva da destruição milhares e milhões de hectares de mata e cerrado nativos que hoje não mais existiriam se não fosse por ele, dado nosso voraz consumo de madeira, lenha e papel. Isso sem falar na retenção do carbono pelo eucalipto por um bom tempo, quando usado para produção de  madeira serrada.

Temos que separar as coisas: um uso é com finalidade agrícola, ok, outro como árvore substituta da nativa,  não.

Ricardo Henrique Cardim

Atualmentente se tornou moda  o tal “carbono neutro”,  com diversos tipos de eventos e empresas plantando árvores ou buscando quem possa fazer isso por elas.

Um dos locais preferidos para essas ações são as margens de corpos de água, onde se estabelecem as matas ciliares. Realmente precisamos de muitas florestas para preencher a lacuna causada por mais de um século de destruição no Estado de São Paulo, e essas ações mesmo que não estejam “neutralizando” o carbono são bem-vindas, já que ajudam a recuperar o imenso passivo ambiental.

A questão é que a maioria desses reflorestamentos seguem a linha plantação de árvores, muitas vezes de forma descuidada,  onde se plantam espécies “nativas” (as vezes de beeem longe do local) pouco preocupado com os  estágios da sucessão florestal, porte minúsculo e com grande espaçamento para economizar no número de mudas.

O resultado é fácil de prever em muitas dessas ações: muito capim invasor como o braquiária, formigas saúva e quenquém, estresse hídrico das mudas, erosão e logo após algum tempo uma savana de alguns arbustos cheios de galhos sobreviventes em meio a um alto capinzal, até que o fogo um dia leve isso também.

Isso podemos observar por exemplo no reflorestamento feito na década de 90 e 00 nas margens da rodovia  Bandeirantes perto de Sorocaba.

A manutenção é algo esporádico, e se restinge geralmente a remoção do capim no pé da muda, com direito, inclusive, a cortes da enxada no tronco das pequenas árvores.

Voltando as ações de mitigação, o sujeito que contratou o serviço e seus clientes geralmente não sabem sequer em que lugar esse reflorestamento vai ocorrer e nem como e quando, e não entendem os processos, não existe controle e nem conexão com as pessoas e aí, fica a critério da competência, ética e técnica do implantador, ficando as pessoas na cidade de consciência leve, as do campo com a certeza de que cumpriram sua obrigação, e o resto a cargo da natureza (que vença o mais forte).

Por isso, devemos ter cuidado com essas ações “Carbon Free” talvez elas não sejam tão “free” assim.

Ricardo Henrique Cardim

 reflorestamento